Uma nova campanha idealizada pelo Projeto
Parto Adequado, que visa à melhoria na prática obstétrica no Brasil, reforça a
preocupação quanto à realização de cesáreas desnecessárias e busca sensibilizar
gestantes e profissionais de saúde para que evitem o parto agendado. A ação é
coordenada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Hospital Israelita
Albert Einstein e Institute for Healthcare Improvemente (IHI). Com o tema Não
ao Parto Agendado, as mensagens que serão disseminadas pelas mídias sociais dos
integrantes do projeto pedem que se evite a realização de cesáreas antecipadas
e desnecessárias, numa época em que, devido às férias, festas de fim de ano e
carnaval, é notório o incremento no número de partos cirúrgicos, levando à
prematuridade dos bebês.
"Os meses de dezembro a fevereiro são
um período em que notamos aumento das cesáreas desnecessárias agendadas em
função das diversas datas comemorativas. Para prevenir as gestantes, mobilizar
os profissionais de saúde e alertar a sociedade, elaboramos esta campanha, que
tem o objetivo de alertar para os riscos das cesarianas sem necessidade e
sensibilizar as gestantes, seus familiares e também os profissionais de
saúde", explica a diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, Martha
Oliveira. "Através da ação, disseminaremos informações alertando para os
riscos da cesárea desnecessária", detalha.
A mensagem-chave da campanha é: Respeite o
tempo do seu bebê. Para o nascimento, não há feriado: evite o parto agendado,
escolha o #partoadequado. Através das mídias sociais, serão divulgadas,
regularmente, informações que abordam as vantagens e os mitos relacionados ao
parto normal e destacam a importância de práticas baseadas em evidências
científicas. A iniciativa também visa estimular o engajamento das equipes de
saúde atuantes nos hospitais participantes do projeto Parto Adequado e
demonstrar e difundir as mudanças na assistência prestada por essas
instituições.
"O hospital, como líder clínico do
projeto, se preocupa com a educação e a informação das pacientes sobre as
vantagens de se aguardar o termo da gestação e, de preferência, aguardar o
início do trabalho de parto, períodos em que o bebê está maduro, diminuindo
várias complicações, como as pulmonares, icterícia, capacidade de manter a
temperatura, capacidade de sucção para que se estabeleça uma boa
amamentação", afirma Miguel Cendoroglo Neto, diretor-superintendente do
Einstein.
Estudos apontam que bebês nascidos de
cesarianas apresentam riscos maiores de dificuldades respiratórias e são
internados em UTI neonatal com mais frequência. Quando não tem indicação
clínica, a cesariana aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas
respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de
25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados
à prematuridade. Em cesarianas desnecessárias, o recém-nascido pode sofrer
complicações respiratórias imediatas, e se o parto for realizado antes das 39
semanas de gestação, o nascimento pode ocorrer antes da completa maturação
pulmonar do bebê. E como em toda intervenção cirúrgica, existe risco de
mortalidade derivada do próprio ato cirúrgico ou da situação vital de cada
paciente.
"Não há evidências científicas que
justifiquem agendar um parto com antecedência, salvo algum risco claro para a
saúde da mãe e do bebê. Por isso é importante se informar, buscar a opinião de
outros profissionais, conversar com o seu médico", destaca a coordenadora
do projeto Parto Adequado na ANS, Jacqueline Torres. "A mulher tem o
direito de ser informada e ser parte ativa na decisão do tipo de parto",
assinala.
Pesquisas comprovam que a passagem pelo
canal vaginal, na hora do nascimento, coloca o bebê em contato com bactérias
naturalmente presentes nessa área do corpo da mulher, fortalecendo seu sistema
imunológico e prevenindo o desenvolvimento de alergias e outros problemas de
saúde no futuro. O trabalho de parto, ao contrário de um sofrimento para a
criança, significa amadurecimento: a intensificação gradual das contrações
musculares do corpo da mãe, necessárias para o bebê nascer, favorece a
prontidão para o nascimento e o contato com o mundo – ritmo cardíaco, fluxo
sanguíneo e maturação pulmonar são gradativamente trabalhados. A ciência já
demonstrou também que hormônios naturalmente atuantes durante o trabalho de
parto favorecem o vínculo entre mãe e bebê, o aleitamento materno e a
recuperação pós-parto.
O projeto Parto Adequado é uma iniciativa
desenvolvida pela ANS, pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI) e pelo
Hospital Albert Einstein, com apoio do Ministério da Saúde, que envolve 42
hospitais e mais de 34 operadoras de planos de saúde de todo o país.
As estratégias para redução de partos
cirúrgicos desnecessários desenvolvidas pelo projeto tiveram início em outubro
do ano passado, com a assinatura do termo de compromisso que deu origem à
iniciativa. Em março, após um período de inscrição voluntária, foram
selecionados os hospitais participantes do projeto (37 privados e quatro com
atendimento pelo SUS, além do próprio Albert Einstein) e as atividades tiveram
início.
Para fazer as mudanças, os estabelecimentos
estão efetuando adequações de recursos humanos e da ambiência hospitalar para a
incorporação de equipe multiprofissional nos hospitais e maternidades;
capacitação dos profissionais para ampliar a segurança na realização do parto
normal; engajamento do corpo clínico, a equipe e as próprias gestantes; e
promovendo a revisão das práticas relacionadas ao atendimento das gestantes e
bebês, desde o pré-natal até o pós-parto.
Em seis meses de implantação, a iniciativa
ajudou a aumentar em 7,4 pontos percentuais a taxa de partos normais nos
estabelecimentos participantes, iniciando a reversão dos altos números de
cesáreas registrados nos últimos 10 anos no Brasil. Nos 42 hospitais públicos e
privados que estão desenvolvendo a iniciativa, a taxa de partos normais está em
uma curva ascendente: passou de 19,8% em 2014 (média) para 27,2% em setembro de
2015. A redução da taxa de cesáreas para 72,8% após a implantação do projeto
equivale ao salto que o índice deu em praticamente uma década - de 2006 a 2015
- período em que passou de 75,5% para 85,5%.
Fonte: SegNotícias
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