O incêndio que atingiu o Museu da Língua
Portuguesa, no prédio histórico da Estação da Luz, nesta segunda-feira, no
Centro de São Paulo, poderia ter sido evitado se a legislação brasileira fosse
mais efetiva no que diz respeito à proteção contra incêndio de edifícios
tombados pelo patrimônio histórico e considerados patrimônio cultural. A
constatação é feita por especialistas a partir da análise das melhores práticas
adotadas em outros países, como EUA, Reino Unido e Canadá.
Tradicionalmente, a regulamentação de
incêndios no Brasil tem como objetivo fundamental permitir a saída segura dos
ocupantes da edificação durante o incêndio, sendo que a proteção da estrutura e
do conteúdo da edificação são tratados como objetivos secundários. No caso de
museus e outras edificações do patrimônio histórico, a proteção da edificação e
do conteúdo deveriam ser também consideradas fundamentais por tratar-se de
acervo, muitas vezes, insubstituível ou edificações únicas que não podem ser
reconstruídas.
Em todo o mundo, um número cada vez maior
de museus está instalando sistemas de sprinklers ou chuveiros automáticos. Eles
são considerados o meio mais eficiente de proteger coleções de obras de arte do
fogo por algumas das principais organizações culturais do mundo, como o Instituto
Smithsonian em Washington, nos EUA; o Conselho para Museus, Arquivos Históricos
e Bibliotecas do Reino Unido; e o Instituto Canadense de Conservação do
Patrimônio.
"O incêndio não é uma fatalidade.
Quase todos os incêndios podem ser evitados, desde que sejam instalados
sistemas de proteção adequados, e que estes sejam mantidos e inspecionados
periodicamente", explica Marcelo Lima, diretor geral do Instituto
Sprinkler Brasil (ISB), organização sem fins lucrativos que trabalha no Brasil
pela melhoria do ambiente regulatório, com o objetivo de promover a prevenção
eficaz contra incêndio em prédios comerciais, industriais e históricos, por
meio de sistemas de sprinklers.
No caso dos museus, os sistemas de
sprinklers são os equipamentos de segurança mais eficientes para proteger estes
locais, na medida em que são acionados individualmente pelo calor do fogo para
combater o foco do incêndio e porque utilizam baixa pressão de água, o que
reduz o dano às obras de arte.
De acordo com documento publicado pelo Instituto
Canadense de Conservação do Patrimônio em 1998, os mitos que fazem com que os
responsáveis por museus temam os potenciais danos provocados pela água dos
sistemas de sprinklers estão gradualmente caindo por terra. Contrariamente à
noção de que os chuveiros automáticos são ativados todos de única vez, eles são
abertos um a um e, geralmente, entre um a três chuveiros são suficientes para
acabar com o fogo. Eles são ativados pelo calor e não pela fumaça, exigindo uma
temperatura entre 57º e 77ºC para começar a funcionar.
Além disso, o documento explica que a água
dos sprinklers causa menos dano do que a água das mangueiras do Corpo de
Bombeiros. Isso porque os chuveiros automáticos liberam água a uma vazão de 110
litros por minuto no local do início do incêndio, enquanto as mangueiras do
Corpo de Bombeiros despejam uma quantidade 10 vezes maior, com alta pressão em
toda a região do incêndio, muitas vezes danificando mais obras de arte.
"Temos acompanhado uma sequência de
incêndios em prédios históricos no Brasil, como o Teatro Cultura Artística, o
Memorial da América Latina e agora o Museu da Língua Portuguesa. Na ocasião do
incêndio, os responsáveis por estes lugares afirmam estar cumprindo com o que
está previsto na legislação, mas, se o prédio pega fogo é porque o nível de
proteção adotado não é suficiente para impedir que eles queimem", constata
Lima.
Há casos como o do Memorial da América
Latina, que tinha sprinklers, mas que não funcionaram no momento do incêndio
porque não havia água disponível no sistema. "Além de ter sprinklers
instalados, é preciso adotar uma fiscalização regular dos sistemas de proteção
contra incêndio para que eles estejam funcionando corretamente em caso de
necessidade", complementa.
Fonte: SegNotícias
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