No geral, 17% dos entrevistados usuários do
sistema suplementar responderam estar aguardando do plano de saúde autorização
para a realização de um atendimento. Desses, 52% esperam por uma consulta; 24%,
cirurgias, 23%, exames e 1% por outros procedimentos. O tempo de espera é, para
a maioria dos casos (63%), de até um mês. 25% esperam de um a seis meses, 4%
até um ano e 8%, mais de 12 meses. "O pior é que, muitas vezes, as demoras
e dificuldades são planejadas para que o paciente seja obrigado a procurar o
SUS", conta Carlos Vital.
Para o coordenador da Comissão de Saúde
Suplementar (Comsu), Salomão Rodrigues Filho, a aproximação entre as avaliações
dos setores público e privado decorre de regras do setor suplementar, que, por
um lado desvalorizam o trabalho dos prestadores de serviço (médicos e outros
profissionais), e, por outro, permitem a recusa de procedimentos e exames,
prejudicando o paciente. "Isso vem gerando uma insatisfação crescente,
tanto entre os médicos, que deixam de atender pelos planos de saúde porque a
remuneração teve uma perda significativa nos últimos doze anos, quanto entre os
pacientes, que ficam sem o atendimento", resume.
Rodrigues lembra que, apesar de a
regulamentação da Agência Nacional de Saúde (ANS) estabelecer um prazo mínimo
para a realização de consultas, o paciente hoje tem de esperar de 15 dias a um
mês para ser atendido. "Deveria ser imediato", defende.
Clientes criticam valores das mensalidades
e dos reembolsos - A pesquisa Datafolha pediu para os entrevistados darem uma
nota de zero a 10 para os serviços oferecidos, com as notas de oito a 10
significando bom ou excelente, de cinco a sete, regular e de zero a quatro,
ruim ou péssimo. Os serviços que geram mais insatisfação são os valores da
mensalidade, a demora no reembolso, a recusa no atendimento de procedimentos
solicitados pelo médico e a falta de acesso a medicamentos.
A falta de acesso a medicamentos foi o
ponto mais criticado pelos entrevistados: 30% deram nota de zero a quatro para
este item. Já 27% dos usuários criticaram os valores das mensalidades. O
reembolso de gastos com consultas, procedimentos e exames foi criticado por 19%
dos entrevistados. A recusa do plano para liberar procedimentos recebeu nota
negativa de 15%.
Salomão Rodrigues sugere que haja uma
melhor relação entre médicos e operadoras de saúde para que a avaliação da
saúde suplementar melhore. "Hoje a forma de relacionamento é de conflito.
As duas partes atuam como adversárias. É preciso que haja uma relação
contratual clara, segura e com remuneração adequada para o médico",
aconselha.
Os itens melhor avaliados foram a qualidade
das instalações dos locais de atendimento, quantidade de médicos, qualidade no
atendimento de emergência, quantidade de hospitais, clínicas e laboratórios e
quantidade de profissionais de saúde. Os piores foram o acesso a medicamentos,
reembolso de despesas, valor das mensalidades e recusa no atendimento de
procedimentos solicitados pelos médicos.
A qualidade das instalações dos locais de
atendimento foi considerada boa ou excelente para 60% dos entrevistados. Já a
quantidade de médicos vinculados aos planos recebeu nota acima de oito de 54%
dos entrevistados; a qualidade dos serviços de emergência foi considerada
positiva por 54%; e 53% avaliaram como boa ou excelente a quantidade de
profissionais de saúde e de hospitais, clínicas e laboratórios credenciados.
Receberam notas medianas o tempo de espera
para exames, consultas e cirurgias (49% dos entrevistados consideraram o
atendimento bom ou excelente); tempo para liberação de guia; a quantidade de
leitos para UTI e internação; e respeito ao direito do consumidor.
A pesquisa foi realizada em agosto de 2015,
quando também foram entrevistados usuários do SUS. Foram ouvidas 2.069 pessoas
maiores de 16 anos de todas as classes sociais e de todas as regiões. Entre os
entrevistados, 578 (27%) afirmaram possuir planos de saúde e este é o universo
da pesquisa sobre o setor. Entre as regiões do País, o Nordeste é a que tem
menor número de pessoas cobertas pela assistência suplementar: apenas 18% da
população, contra uma média nacional de 27%.
O Instituto Datafolha também fez uma
comparação entre o sistema público e o privado e, como era de se esperar, o
último foi melhor avaliado. Em relação à quantidade de leitos de UTI e para
internações, enquanto o SUS recebeu 9% das notas entre 8 a 10, este percentual
no sistema suplementar foi de 48%. O tempo de espera para consultas, exames ou
cirurgias foi avaliado positivamente por 9% dos usuários do SUS e por 49% entre
àqueles que têm plano de saúde. Os percentuais são de 13% e 54%,
respectivamente, para a quantidade de médicos no SUS e na rede privada.
Com relação à quantidade dos demais
profissionais de saúde, 14% dos entrevistados deram nota de oito a 10 para os
números do SUS e 53% para os dos planos de saúde. Já 16% dos usuários do SUS
consideraram como boa a quantidade de hospitais e de postos de saúde públicos,
contra 53% dos clientes dos planos. O único item em que os dois sistemas têm
índices parecidos foi o acesso ao medicamento, que foi considerado positivo por
22% dos usuários do SUS e por 28% dos clientes da assistência privada.
Para Carlos Vital, o índice de satisfação
dos usuários dos planos de saúde deveria ser total. "Se levarmos em conta
que eles atendem 25% da população e têm acesso a 53% dos recursos da saúde
movimentados no País, podemos afirmar que têm a obrigação de oferecer uma
plenitude de satisfação", argumenta.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), em 10 de dezembro, corroboram o aumenta da
participação das famílias com gastos em saúde. Entre 2010 a 2013 a despesa per
capita de famílias e instituições sem fins lucrativos com saúde subiu cerca de
25%, de R$ 862,25 para R$ 1.162. Já as despesas globais do governo com saúde
permaneceram em torno de R$ 190 bilhões, mesmo a população brasileira tendo
aumento de 195.498 para 201.033 milhões de habitantes.
Segundo o IBGE, o principal gastos das
famílias, em 2013, foi com serviços de saúde privados (incluindo planos de
saúde), chegando a 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$
141,3 bilhões. Com medicamentos, as famílias gastaram o equivalente a 1,5% do
PIB.
A percepção negativa em relação aos planos
de saúde captada pela pesquisa do Instituto Datafolha/CFM também foi detectada
por outras instituições. Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(Idec) os planos de saúde lideraram as reclamações no órgão em 2014, superando
os serviços telefônicos e bancários. Anualmente, o Idec publica o ranking de
reclamações do ano anterior e, pela terceira vez consecutiva, as operadoras de
saúde ficaram no topo da lista. Reajustes abusivos e negativas de coberturas
são as reclamações mais freqüentes.
A Associação Paulista de Medicina (APM)
também divulgou em outubro deste ano uma pesquisa sobre a qualidade dos planos
de saúde. De acordo com a sondagem, também realizada pelo Instituto Datafolha,
84% dos usuários da saúde suplementar no estado de São Paulo relataram ter
enfrentado algum tipo de problema nos últimos dois anos. No ranking de
reclamações, aparecem em primeiro lugar as queixas relacionadas ao
pronto-atendimento/pronto-socorro que correspondem a 80%. Em segundo, estão as
reclamações de consultas médicas (69%), seguida de exames e diagnósticos (58%).
A principal reclamação em relação aos
prontos-socorros é a lotação do local de espera (73%). Em segundo lugar nas
queixas, os pacientes relatam a demora no atendimento. Outro aspecto destacado
é a demora ou negativa para a realização dos procedimentos necessários (34%) e
negativa de atendimento (11%). As internações hospitalares também estão entre
as principais reclamações dos usuários, sendo que 51% relataram ter enfrentado
dificuldades. Os principais problemas são as poucas opções de hospitais (43%) e
a demora para conseguir autorização para internação (23%).
Pesquisa divulgada em 2010 pela Associação
Médica Brasileira (AMB) e APM mostrou que numa escala de um a 10, os médicos
brasileiros que atendiam por plano ou seguro de saúde deram nota cinco para as
operadoras. Entre tipos de interferências praticadas pelos planos ou seguros
saúde, os médicos apontaram principalmente as glosas de procedimentos ou
medidas terapêuticas (78%), a interferência no número de exames e procedimento
(75%), as restrições a doenças pré-existentes (70%) e a interferência em atos
diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores (70%). Os dados
não devem ter mudado nos últimos cinco anos.
Fonte: SegNotícias
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