Depois de crescer ao redor de dois dígitos
durante uma década, o setor de produtos para saúde começa a sentir os efeitos
da crise econômica. De janeiro a outubro deste ano, o índice de consumo
aparente apresentou uma queda de 7,6% em relação a igual período do ano
anterior. A estimativa é que o faturamento do setor fique ao redor de US$ 10
bilhões.
Os dados de desempenho, levantados pela
consultoria econômica Websetorial para a Associação Brasileira da Indústria de
Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), foram apresentados ontem no
Encontro Anual da entidade.
Apesar do crescimento de 3,3% na produção
industrial e de 4% nas vendas no comércio varejista de acordo com o IBGE, o
setor foi muito impactado pelo aumento do dólar e por uma queda de 12,2% nas
importações, que respondem por 70% do consumo aparente e totalizaram cerca de
US$ 5,3 bilhões, segundo Carlos Goulart, presidente-executivo da Abimed.
"As mudanças no câmbio afetaram
principalmente o segmento de equipamentos médicos, que tem grande peso no
setor. Mas contribuíram também para o resultado negativo o cenário
político-econômico de incertezas, que prejudica os investimentos, e a queda na
arrecadação de estados e municípios promovida pela recessão, que afeta a
disponibilidade de financiamento do serviço público", analisa Goulart.
Em relação a postos de trabalho, as altas
taxas de desemprego do país ainda não chegaram ao setor de produtos para saúde,
que manteve praticamente estável o contingente de trabalhadores, com um recuo
de 0,55% segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do
Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Goulart avalia que o setor continuará a
sofrer impactos da crise econômica e projeta para 2016 uma queda de 2,0% a
2,5%, em decorrência especialmente dos cortes já anunciados para a área da
saúde, da restrição de compras do setor público em virtude da queda na
arrecadação, e do desemprego, que tende a empurrar para o SUS trabalhadores que
contavam com plano de saúde.
O Encontro Anual da Abimed contou ainda com
a participação de Pedro Ivo Sebba Ramalho, adjunto do diretor-presidente da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e de representantes da
Investe São Paulo e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp).
O diretor da Anvisa apresentou a agenda e
os principais programas do órgão para a área da saúde em 2016. "A Anvisa
vem fazendo grandes esforços para aperfeiçoar seus processos e o Marco
Regulatório e também adotará medidas para melhorar o sistema de
informática", destacou.
Sérgio Costa, diretor da Investe SP, por
sua vez, detalhou o papel da agência no desenvolvimento do setor de saúde no
país. Disse que a lei que autoriza investimentos estrangeiros na área da Saúde
criou um cenário de fusões e aquisições com novas oportunidades.
"A Investe São Paulo está trabalhando
para atrair empresas que possam consolidar o estado como cluster de indústrias
relacionadas à Saúde. São Paulo já atrai 40% de todo o investimento estrangeiro
direto que entra no país e 20% do que entra na América do Sul", afirmou.
Segundo Carlos Henrique de Brito Cruz,
diretor científico da Fapesp, embora o Brasil enfrente enormes desafios na área
da saúde, a pesquisa científica associada à criação de oportunidades para
inovações é um dos mais importantes instrumentos para superá-los.
"A colaboração entre pesquisadores de
empresas, universidades e institutos de pesquisa é essencial e vem acontecendo
fortemente em São Paulo. Há oportunidades para intensificar essa interação e a
Fapesp e a Abimed trabalham juntas para isso", ressaltou.
Em relação aos planos da Abimed para o
próximo ano, Fabrício Campolina, presidente do Conselho de Administração da
entidade, destacou que a associação - que completará 20 anos em 2016 -
aprofundará sua atuação nas questões ligadas à Inovação e Ética".
"Nosso objetivo é contribuir para a
consolidação de um ambiente macroeconômico baseado nesses dois pilares e
voltado principalmente para a sustentabilidade do sistema de saúde do país. As
empresas inovadoras estão hoje fortemente centradas na sustentabilidade do
setor e no uso racional da tecnologia", afirmou.
Campolina adiantou que a Abimed realizará
um levantamento dos casos de sucesso nos quais a inovação gerou impacto
positivo para pacientes e para o sistema de saúde. Ele anunciou ainda que a
Abimed passará a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Ética Saúde,
promotor do Acordo Setorial que envolve importadores, distribuidores e
fabricantes de Dispositivos Médicos.
Fonte: SegNotícias
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