Doutor em Saúde Pública, o médico Luis
Eugênio Souza informou que são dois os principais desafios nos serviços do
setor: a formação de profissionais de saúde descolada das necessidades e o subfinanciamento
da rede pública de saúde.
“Temos uma oferta insuficiente de
profissionais e uma formação centrada em doenças tratáveis em hospitais e que
negligencia os problemas de atenção primária, mais comuns na sociedade e que,
se tratados, evitam os mais complexos. Segundo ele, de forma geral há uma
educação centrada nas doenças raras.
Durante o 11º Congresso Brasileiro de Saúde
Coletiva, o professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da
Bahia - na véspera do fim do seu mandato de três anos como presidente da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) - explicou que muitos
procedimentos, hoje feitos apenas por médicos, poderiam ser de responsabilidade
de outros profissionais. “Por exemplo, a maioria dos países com sistema universal
usa a figura do optometrista, que não pode fazer cirurgias, não trata doenças,
mas é capaz de identificar o grau de sua miopia, hipermetropia, astigmatismo”.
A classe médica é contra a regulamentação
da profissão, mas o professor avaliou o posicionamento como corporativismo.
Outro exemplo usado por ele é o parto. “Em outros sistemas, temos as
enfermeiras obstetrizes. Não é preciso médico para fazer todo parto natural.”
Sobre o financiamento público de saúde, ele
fez um comparativo entre o gasto anual por habitante no Brasil e outros países
com sistema universal de saúde. Enquanto a média entre Inglaterra, Canadá,
Japão e Austrália é de US$ 3 mil por habitante/ano, o Brasil gasta em torno de
US$ 500. Na rede privada brasileira são gastos cerca de US$ 1.500 por ano.
Durante a abertura do congresso, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, concordou
que falta dinheiro.
A saúde pública brasileira, que tem como
objetivo constitucional servir aos cidadãos de forma integral, tem, segundo
Luis Eugênio, basicamente três fontes de doenças que precisam de diferentes
tipos de atenção. São as infecciosas, as crônicas e as decorrentes de vários
tipos de violência.
“O grande problema é organizar um sistema
de saúde capaz de tratar dessa tripla carga de doenças. Isso exige competências
diversificadas, entre elas a construção de redes de atenção à saúde, boa rede
disseminada pelo território nacional, cobertura de atenção primária a saúde,
por meio do fortalecimento da estratégia de saúde da família, e, ao mesmo
tempo, estratégia especializada e que garanta segmento aos problemas das
pessoas que necessitam de outros recursos tecnológicos. Para isso, é preciso
dinheiro”, esclareceu o professor.
Apesar das críticas, Souza destacou que o
SUS merece parabéns por uma série de motivos. Segundo ele, a conquista mais
importante da saúde brasileira foi o controle das doenças passíveis de
prevenção por vacinação.
"Também merecem elogios o Samu,
programa Brasil Sorridente, a rede de saúde mental, que reduziu
significativamente os leitos psiquiátricos, uma tendência mundial, e a rede
Caps, articulada em poucos anos, que ainda tem problemas, mas é um avanço”.
Para o especialista, outros avanços na
saúde pública são a estratégia de saúde na família e as parcerias de
Desenvolvimento Produtivo, que trazem tecnologia à produção de remédios para o
Brasil.
A Abrasco é a entidade que, em 1988, esteve
envolvida na construção do Sistema Único de Saúde, em 1988.
Fonte: SegNotícias
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